Portugal desfruta de colheita recorde num “ano de baixa”

Espera-se que o país produza um pouco mais que 126.000 toneladas, a quarta maior produção já registada. As estimativas iniciais previam uma produção de menos de 100.000 toneladas.

“Estamos a testemunhar mudanças nos hábitos alimentares e de consumo, com menos cozinha caseira e mais alimentos processados​, menos literacia na aquisição e preparação de alimentos, como cozinhar alimentos ou pratos tradicionais”, acrescentou. “As gerações mais jovens também estão mais dispostas a aderir a dietas alternativas que geralmente promovem outras gorduras”.

Apesar do consumo estagnado, a produção de azeite em Portugal continua numa trajetória ascendente, com os produtores a antecipar um rendimento recorde para um “ano de baixa” com muitos produtores a entrar na fase baixa do ciclo natural de produção alternada da oliveira.

A longa seca e os extremos climáticos que afetaram grande parte da bacia do Mediterrâneo Ocidental durante o ano passado também afetaram os números da produção. Em agosto passado, os produtores portugueses de azeite estimaram que o rendimento cairia abaixo de 100.000 toneladas.

Contudo, dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que a produção em 2022/23 será bem superior. O INE refere que já foram produzidas 126 mil toneladas no país até ao final de Dezembro.

Esse valor tornaria a colheita atual a quarta maior na história do país, que nos últimos anos apresentou uma produtividade crescente. No ano passado, Portugal teve uma colheita recorde, que segundo o INE ultrapassou as 230 mil toneladas. Segundo o COI, Portugal produziu 206,2 mil toneladas no ano passado.

Os preços do azeite em Portugal estão prestes a acalmar depois do governo incluir o azeite numa lista de produtos isentos de imposto sobre o valor acrescentado

O objetivo desta nova medida é amenizar o impacto da inflação nas contas de supermercado das famílias.

“A produção de azeite em Portugal vai continuar a crescer, com possibilidade de se tornar no terceiro maior produtor europeu.” – afirma Gonçalo Moreira, responsável do programa de sustentabilidade do Azeite do Alentejo.

“A produção de azeite em Portugal vai continuar a crescer, com possibilidade de se tornar no terceiro maior produtor europeu.”

– afirma Gonçalo Moreira, responsável do programa de sustentabilidade do Azeite do Alentejo.

O consumo esperado de azeite para a colheita de 2022/23 em Portugal é de umas estimadas 61.000 toneladas pelo Conselho Oleícola Internacional, ligeiramente abaixo da média dos ultimos cinco anos.

“O consumo de azeite diminuiu nos últimos anos, o que não é exclusivo de Portugal, com outros países produtores europeus a registarem o mesmo fenómeno”, disse Gonçalo Moreira

Moreira disse que ainda é muito cedo para dizer como será o rendimento em 2023/24, e as previsões não podem ser feitas até à floração da oliveira no final da primavera. Ainda assim, o mesmo disse que os investimentos na olivicultura moderna em Portugal provavelmente resultarão num aumento da produção.

“A produção de azeite em Portugal vai continuar a crescer, com possibilidade de se tornar no terceiro maior produtor europeu”, disse Gonçalo Moreira.

“Isto vai ser ajudado pelos novos olivais que estão a ser instalados e pela conversão dos olivais tradicionais para outros métodos mais produtivos, como o olival superintensivo”, acrescentou.

O Alentejo é a região produtora de azeite mais relevante do país, mas os investimentos na olivicultura moderna também estão em expansão noutras outras áreas do país.

“Para além disso, temos o aumento do número de novos lagares 4.0, construídos e equipados com a mais moderna tecnologia, que permite uma extração otimizada do azeite e rendimentos da mais alta qualidade”, disse Moreira.

Outro produtor premiado, António Duarte, proprietário dos Viveiros Monterosa, confirmou que muito mais pode ser feito para melhorar o reconhecimento internacional dos azeites portugueses.

“Ainda há muito a fazer pela marca “Made-in-Portugal” face a grandes produtores de azeite como Espanha ou Itália”, disse ao Olive Oil Times. “Nos últimos anos desenvolveu-se uma política de promoção do azeite português, mas ainda temos um longo caminho a percorrer.”

“A sensação geral é que o azeite português é de excelente qualidade, mas não é muito fácil de encontrar”, acrescentou Duarte. “A maioria dos produtores de azeite de alta qualidade são pequenos ou médios.”

Ainda assim, ele reconheceu que a situação está a melhorar lentamente. “Os azeites portugueses têm sido mais valorizados nos últimos anos principalmente porque têm sido premiados regularmente em vários concursos internacionais”, disse Duarte.

“Todo o trabalho que os produtores têm feito e o seu reconhecimento com os prémios tem facilitado a aceitação dos nossos azeites e, pouco a pouco, vemos os azeites portugueses a serem comercializados em vários países”, disse.

 

De acordo com o INE, a qualidade do azeite em 2022/23 é elevada, com boas características organoléticas e baixa acidez.

“A cada ano, mais empresas estão a produzir azeite de alta qualidade em Portugal”

– disse Alberto Serralha, proprietário da premiada produtora Sociedade Agrícola Ouro Vegetal, ao Olive Oil Times.

O mesmo acrescentou que a alta qualidade do azeite português raramente é reconhecida como deveria ser. “Portugal precisa de uma entidade profissional para promover os nossos azeites nos mercados internacionais da mesma forma que Espanha, Grécia e Itália o fazem”, disse Serralha.

“Hoje, o caminho não é claro para os produtores de qualidade que tentam crescer e se diferenciar nos mercados de exportação devido à escala e ao orçamento de marketing limitado”, acrescentou. “Além disso, a concorrência de outros países é bastante séria; hoje em dia, qualquer região produtora tem produtores excecionais.”

“O caminho lógico para os produtores portugueses de alta qualidade é procurar a diferenciação que as variedades tradicionais proporcionam, pois algures existe um mercado que valoriza a sua singularidade”, continuou Serralha.

Com a nova estação a aproximar-se rapidamente, Moreira disse: “2023 começou frio e com pouca chuva. No final de fevereiro, o sul já se encontrava numa situação de seca ligeira a moderada, com o centro e o norte numa situação normal de humidade e chuva para a época”.

“Apesar da humidade em março, as altas temperaturas não permitem que a água se acumule no solo”, acrescentou.

Ainda assim, os níveis da bacia hidrográfica são tranquilizadores, com pelo menos 85% da capacidade no sul. No entanto, a escassez de água está sempre na mente dos produtores.

“Os olivicultores sabem o impacto que a falta de água pode trazer e têm tornado os seus olivais mais resistentes”

– concluiu Moreira.

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